Saturday, May 31, 2008

GLOBO REPÓRTER – 30/05/2008
Exma. Mídia:
Assistindo a reportagem das proezas de pessoas que com sorte, saíram do nada para uma vida abastada e sabendo que são poucos no universo de pessoas existentes, me veio à mente a facilidade com que a mídia encontrou para mostrar um lado bem sucedido de uma minoria brasileira.Sabemos todos nós que a maioria vivem umas realidades diferentes, que mesmo lutando com todas as forças não conseguiram chegar lá impedidos na maior parte por injustiças e decepções sofridas. Até hoje com 47 anos de vida, nunca vi nenhum desses milhões... Receber destaque em algum canal de TV com tamanho valor ser mostrado ou reportado com tanta ênfase em um programa tradicional e famoso como o Globo Repórter, e, escrevo porque pertenço à classe desses milhões detentores de uma história diferente da mostrada com destaque em Rede Nacional em 30/05/2008. Sendo assim fica uma pergunta ainda sem resposta, porquê? Será meu mundo outro? Creio que não, pois sei que minha história, que é igual a muitas que existem e representa muito para mim, não seja de interesse das grandes reportagens ou até mesmo de opiniões defendidas por “valores” detentoras e patenteadas por grandes conglomerados de comunicação que com reportagens como a divulgada sexta-feira à noite na mídia, se abastece e ao mesmo tempo se sustenta na publicidade de incentivo do consumismo desenfreado seja o produto qual for, alimentando a ilusão e fantasia das pessoas, sendo assim catastrófico para a sociedade no despertamento da busca e cobiça... Sem precedentes daquilo que muitas vezes não se pode alcançar. Escrevo não como um desabafo, mas uma opinião de um cidadão brasileiro que como tantos outros tem uma opinião a ser defendida, mesmo assistindo, outras opiniões formadas e defendidas com unhas e dentes.

Obrigado.

Tuesday, May 27, 2008

Correio Braziliense MEIO AMBIENTE
Greenpeace realiza protesto

Ativistas do Greenpeace realizaram um protesto ontem para cobrar do governo brasileiro maior apoio à criação do Santuário de Baleias do Atlântico Sul. Uma baleia inflável de 15 metros de comprimento foi colocada em frente ao Palácio do Planalto. A ação marcou a entrega de uma petição com mais de 12 mil assinaturas a um representante da Presidência da República. Em 1999, o governo brasileiro propôs a criação do santuário, mas a idéia não saiu do papel.

Correio Braziliense MEIO AMBIENTE
Com a Amazônia, não tem negócio
Lula manda um duro recado aos estrangeiros interessados em fatiar ou controlar a região. Alerta que é necessário combater o desmatamento, mas destaca a importância do desenvolvimento do Norte do país
Ricardo Miranda e Leonel Rocha

Rio e Brasília — Na véspera de dar posse ao novo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, que assume o cargo hoje no lugar de Marina Silva, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mandou ontem o mais duro recado aos chefes de Estado, estudiosos e ambientalistas que defendem uma gestão compartilhada das florestas tropicais do planeta: “O mundo precisa entender que a Amazônia brasileira tem dono”, afirmou. “O dono da Amazônia é o povo brasileiro, são os índios, os seringueiros, os pescadores. E nós, que somos brasileiros, temos consciência de que é preciso diminuir o desmatamento, as queimadas, mas também temos a consciência de que é preciso desenvolver a Amazônia”, disse Lula, muito aplaudido, ao discursar na abertura 20º Fórum Nacional do Instituto Nacional de Altos Estudos (Inae), na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no Centro do Rio.

No evento com a presença de cientistas e diplomatas de vários países — entre eles os professores Edmund Phelps, Prêmio Nobel de economia de 2006, e Albert Fishlow, da Universidade de Columbia, além do jornalista Roger Cohen, colunista do New York Times — Lula afirmou que não permitirá a segregação das 25 milhões de pessoas dos nove estados amazônicos. Segundo o presidente, essa população não pode ser impedida de aproveitar o desenvolvimento econômico que beneficia o restante do país. “É muito engraçado que os países responsáveis por 70% da poluição do planeta agora fiquem de olho na Amazônia como se fosse apenas nossa a responsabilidade pelo que eles mesmos não fizeram todo o século passado”, afirmou o presidente.

Diante do embaixador do Japão no Brasil, Ken Shimanouchi, Lula disse o “o protocolo de Kyoto já faliu”, e criticou países que nunca referendaram esse acordo internacional para reduzir as emissões de gases poluentes. Lula não citou diretamente os Estados Unidos, país que se recusou a assinar o protocolo. O presidente acusou os países desenvolvidos de terem “preconceitos arraigados” e de montarem “lobbies fortíssimos” contra os biocombustíveis. “O Brasil não se assusta com campanhas orquestradas”, garantiu Lula. Ele também informou que viajará na próxima semana para Roma onde participará da conferência da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO). O tema principal será a polêmica entre produção de alimentos e de bioenergia.

O presidente lamentou a política protecionista dos Estados Unidos e da Europa contra produtos brasileiros, verdadeira responsável, segundo ele, pelo aumento global do preço dos alimentos — e não a nova matriz energética renovável. Segundo assessores, Lula está particularmente irritado com reportagem do New York Times, publicada na semana passada, em que o periódico pergunta: “De quem é esta floresta amazônica, afinal?”. No texto, o jornal diz que “um coro de líderes internacionais está declarando mais abertamente a Amazônia como parte de um patrimônio muito maior do que apenas das nações que dividem o seu território”.

Etanol
Também recentemente, o economista americano Paul Krugmann, em um artigo no mesmo NYT, chamou o etanol de “demônio” e listou o combustível como uma das causas da alta dos preços dos alimentos. “Não é correto afirmar que vamos prejudicar o cultivo dos alimentos. O etanol pode diminuir a crise energética e a poluição. O mundo pode e deve assinar um pacto global pelo uso de fontes alternativas de energia”, defendeu o presidente.

A pedido do novo ministro Carlos Minc, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) decidiu suspender a divulgação que faria ontem, em São José dos Campos (SP), das análises do sistema de alerta do desmatamento Deter para o mês de abril de 2008. Segundo a assessoria de imprensa do órgão, a divulgação foi suspensa até que seja acertado com o novo ministro do Meio Ambiente um novo esquema de apresentação dos dados sobre desmatamento.

A mudança na divulgação evitaria um constrangimento para o novo ministro, já que no dia da posse dele a notícia seria o aumento do desmatamento na Amazônia legal registrado pelo instituto. O Palácio do Planalto confirmou a posse do novo ministro para hoje às 15h, com transmissão de cargo às 18h na sede da Agência Nacional de Águas (ANA).

Desafios
O maior desafio de Minc será a regularização fundiária nos nove estados que formam a Amazônia Legal. A opinião é consenso entre os dirigentes das maiores organizações não-governamentais (ONGs) ambientalistas e os militantes “verdes” independentes, além dos atuais assessores do próprio governo. “O novo ministro precisará de muito fôlego para poder negociar a regularização fundiária dentro do próprio governo e com os institutos de terra dos estados da região”, disse Paulo Barreto, pesquisador sênior do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).

Segundo dados do Imazon, existem 42 milhões de hectares de terras públicas ocupadas por posseiros sem documentação e que precisam ser regularizadas. Essas áreas, segundo a instituição, são o foco das maiores queimadas e de outros graves crimes ambientais na Amazônia. Para poder regularizar essas regiões, será preciso uma negociação do Ministério do Meio Ambiente com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), instituição responsável pelas chamadas terras devolutas da União. “Acabar com as queimadas e o trabalho escravo na Amazônia é o desafio mais urgente para o novo ministro”, disse o biólogo Mário Mantovanni, dirigente da SOS Mata Atlântica.

Mas os desafios de Minc não param aí. Ele será cobrado pelos ambientalistas do Congresso para implantar a chamada agenda marrom, que consiste na construção da rede de saneamento básico nas principais cidades brasileiras. Esse tipo de poluição é considerada a maior causa de contaminação de rios, lagos, lagoas e outros mananciais. “Cuidar da Amazônia é estratégico para o Brasil porque a floresta não é somente o estoque de biodiversidade, mas uma das maiores causas de poluição por causa das queimadas”, comentou o deputado Sarney Filho (PV-MA), presidente da Frente Parlamentar Ambientalista da Câmara.

“Carlos Minc tem vários desafios: impedir o desmatamento, o trabalho escravo e fazer a regularização fundiária na Amazônia”
Mário Mantovanni, dirigente da SOS Mata Atlântica

“O ministro terá que identificar quem são os donos da terra na Amazônia, além da União, para poder fazer a regularização fundiária. Além disso, terá que acabar com a impunidade na Amazônia”
Paulo Barreto, pesquisador sênior do Imazon

Os desafios de Minc
1 - Regularização fundiária nos nove estados da Amazônia Legal. Existem mais de 24 milhões de hectares de terras públicas na região, boa parte delas ocupada por posseiros sem documentação. É nesse espaço onde acontecem as maiores queimadas para a abertura de novos pastos
2 - Redução das áreas queimadas na Amazônia e em outras regiões do país
3 - Definição de ações da chamada “agenda marrom”, que trata de medidas de despoluição das cidades, com implantação de estações de tratamento dos esgotos caseiros, considerados os maiores poluidores de rios, lagos e outros mananciais de água doce do país
4 - Programa de reciclagem do lixo urbano, hoje considerado um dos maiores problemas de contaminação
5 - Modificações de leis para a antecipação do prazo para que as indústrias de automóveis e de refino de petróleo passem a produzir combustíveis com menor emissão de partículas de enxofre e chumbo, exigência de protocolos internacionais


Folha de São Paulo País deve usar petróleo para se industrializar, diz Lula
Para ele, descoberta no pré-sal não deve servir apenas para agigantar Petrobras. Industrialização do país consolidaria um modelo de desenvolvimento baseado numa indústria nacional forte, afirma o pres
PEDRO SOARES - DA SUCURSAL DO RIO

Num discurso pontuado pela defesa da indústria naval brasileira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que o país tem de aproveitar as descobertas de petróleo na camada pré-sal para se "industrializar", e não apenas para converter a Petrobras numa "grande exportadora de petróleo".

"Eu não quero que a Petrobras, porque descobriu o pré-sal, vire apenas uma grande exportadora de petróleo, não. Vamos exportar, mas não quero que o presidente do Brasil coloque aquele pano na cabeça como se fosse um xeique do petróleo, não. Eu quero que a gente aproveite esse petróleo para industrializar este país, para consolidar um modelo de desenvolvimento baseado numa indústria nacional forte", disse Lula.

O presidente ressaltou também o papel da estatal como instrumento de política industrial. "É preciso ter consciência de que uma empresa como a Petrobras não pode existir apenas para ser a sexta maior empresa do mundo, a terceira maior empresa das Américas [em valor de mercado]. Ela existe também para ser alavancadora do desenvolvimento deste país e a geradora de oportunidades para outros setores da sociedade."

Para o presidente, a Petrobras não pode se pautar exclusivamente por decisões empresariais -ainda que perca, no curto prazo, com tal posição.

"Se a gente deixasse a nossa querida Petrobras trabalhar apenas pela cabeça empresarial, se ela apenas pensasse em perdas e ganhos de curto prazo, obviamente que ficaria mais fácil para a Petrobras comprar lá fora. Isso é verdade, mas a visão não pode ser apenas a de curto prazo."

Encomendas nacionais
Mesmo mais caras, o presidente ressaltou a importância das encomendas da estatal à indústria nacional como forma de irradiar o crescimento a outros setores -foi o governo Lula que introduziu, em 2003, regras de conteúdo nacional mínimo (inicialmente de 60%) nas licitações da companhia.

"A imbecilidade chega a tal ponto que as pessoas não se lembram que se a gente investir vai contratar trabalhadores, que vão ganhar um salário, que vão virar consumidores, que vão cuidar da família. Portanto, vão gerar emprego no comércio, que vai gerar trabalho na fábrica, que vai ter mais um trabalhador, que vai ter mais um consumidor."

"Homens produtivos"
Segundo Lula, desse modo se constrói "uma nação de homens produtivos", mesmo que à custa de despesas maiores nas encomendas da Petrobras. "É mais fácil ir à Correia, a Cingapura, à Noruega e comprar um navio pronto. Dá menos trabalho. Não tem nenhum problema. Quem sabe saísse um pouco mais baratinho do que construir aqui."

A uma platéia de trabalhadores e executivos da indústria naval e políticos, o presidente afirmou que, "nas duas últimas décadas, se vendeu a idéia de que nós não precisaríamos produzir nada" -pensamento responsável pelo sucateamento do setor naval. "Era mais fácil a política do prato feito: comprar tudo pronto."

Tal política, disse Lula, empurrou "um exército de adolescentes" sem oportunidades para a criminalidade. "É esse o papel que o Estado brasileiro tem de jogar [o de indutor do crescimento] porque, se não for o orgulho de vocês estarem de macacão cuidando dos filhos de vocês, o crime organizado está aí à espera dos deserdados deste país."



Folha de São Paulo Estatal encomenda 230 navios para a indústria nacional nos próximos 10 anos
DA SUCURSAL DO RIO

A Petrobras vai encomendar prioritariamente à indústria nacional 230 embarcações nos próximos dez anos, na maior contratação desse tipo já feita no país.

Por meio de licitação, a estatal contratará 146 barcos de apoio à exploração e produção marítima de petróleo até 2014, que, após, a construção serão alugados pela Petrobras. A encomenda demanda investimentos de US$ 5 bilhões. Nos editais, haverá a exigência de conteúdo nacional (peças e equipamentos) de 80%.

O mesmo modelo será adotado para o afretamento de 40 sonda de perfuração, que estarão em operação até 2017. Nesse caso, porém, a indústria nacional não terá condições de atender a toda encomenda -o país nunca produziu sondas.

"Mas haverá uma prioridade para a indústria naval brasileira. Vamos testar o mercado e faremos o que for possível fazer no Brasil", afirmou José Sergio Gabrielli, presidente da Petrobras.

Segundo o executivo, a prioridade é fechar o contrato das primeiras sondas no próximo ano para atender às necessidades de perfuração na camada pré-sal -mais nova e promissora província petrolífera do país.

Gabrielli afirmou que o mercado de sondas está superaquecido e há falta de equipamentos no mercado.

Diante desse cenário, disse, o custo também explodiu: o aluguel chega a US$ 600 mil a diária. Por todos esses motivos, a companhia optou por licitar 40 unidades.

A estatal lançará ainda a segunda fase do programa de renovação de frota de petroleiros. Serão encomendados 44 ao todo -23 para a frota própria da companhia, 19 a serem alugados e 2 superpetroleiros também destinados ao afretamento.

A Petrobras não divulga os valores estimados das sondas e dos petroleiros para não induzir os preços nas licitações, que já estão em curso.



Folha de São Paulo Presidente critica cobrança externa sobre a Amazônia
DA SUCURSAL DO RIO

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem, no Rio, que "o mundo precisa entender que a Amazônia brasileira tem dono e que o dono é o povo brasileiro". Lula aproveitou o discurso de abertura do 20º Fórum Nacional, na sede do BNDES, no centro do Rio, para responder às cobranças internacionais para que o governo consiga deter o desmatamento nas regiões Norte e Centro-Oeste.

"É muito engraçado que os países que são responsáveis por 70% da poluição do planeta agora fiquem de olhos na Amazônia da América do Sul. Como se fôssemos responsáveis por fazer aquilo que eles não fizeram durante todo o século passado. O mundo precisa entender que a Amazônia brasileira tem dono."

Lula disse também que a preocupação com a preservação da floresta não pode impedir o desenvolvimento da região. Para ele, a população amazônica corre o risco de ser "segregada" se não houver condições para o desenvolvimento: "Afinal de contas, moram lá quase 25 milhões de habitantes, que querem ter acesso aos bens que nós temos aqui no Rio, em São Paulo. Por que essas pessoas têm que ficar segregadas?"

É o mesmo discurso adotado pelo ministro Roberto Mangabeira Unger (Assuntos Estratégicos). A nomeação de Mangabeira como coordenador do PAS (Plano Amazônia Sustentável) é apontada como um dos motivos da saída de Marina Silva do Ministério do Meio Ambiente. O país tem sido alvo de críticas de ambientalistas após o pedido de demissão dela.

Na platéia do fórum, estava o colunista do jornal "The New York Times" Roger Cohen. No domingo retrasado, o jornal americano publicou uma reportagem intitulada "De quem é esta floresta amazônica, afinal?" Segundo o texto, algumas lideranças mundiais têm afirmado que a Amazônia é um patrimônio mundial- e não apenas dos países que dividem o seu território.

No discurso, Lula também criticou a cobertura da imprensa sobre a Unasul (União das Nações Sul-Americanas de Nações), órgão criado oficialmente na última sexta-feira, em Brasília. Ele disse que a Unasul será o primeiro passo para uma integração continental semelhante à ocorrida na Europa. "Trabalhamos na América do Sul com a possibilidade de que as novas gerações possam criar uma moeda única."
(JANAINA LAGE e ROBERTO MACHADO)

Sunday, May 25, 2008

Unasul deve agilizar integração dos países andinos ao Mercosul
Tratado assinado por 12 países da América do Sul confere personalidade jurídica internacional para o subcontinente. Em entrevista coletiva, Lula disse estar de "alma lavada" com a criação da Unasul; presidentes discutem a crise entre Equador e Colômbia
A Unasul (União das Nações Sul-americanas) foi instituída formalmente ontem, em Brasília, com a assinatura do Tratado Constitutivo. O documento, assinado por 11 presidentes e um vice-presidente, confere personalidade jurídica internacional ao subcontinente.
Trocando em miúdos, a América do Sul ganha status de organização internacional, reconhecida na ONU (Organização das Nações Unidas) e capaz de negociar com outros países, blocos de países e instâncias multilaterais. Exemplo desse tipo de autoridade supraestatal é a União Européia. Em tese, a Unasul deverá auxiliar na convergência dos outros blocos já existentes no continente, o Mercosul e a Comunidade Andina, mas com estrutura independente e orçamento próprio.
Só que, enquanto o bloco europeu levou 50 anos para se constituir, o sul-americano queimou etapas e o fez em apenas quatro. O texto do tratado foi negociado por 16 meses entre representantes de todos os 12 governos sul-americanos.
O desafio é tirar do papel tantas boas intenções. Além de estabelecer as regras de funcionamento burocrático da Unasul, o tratado define metas para a integração em diferentes áreas: cooperação econômica e comercial; cadeias de produção; pesquisa e inovação; promoção da diversidade cultural; intercâmbio de informação e de experiências em matéria de defesa; e segurança pública.
Em discurso, Lula disse que "o tratado não é um fim em si mesmo". Segundo ele, é preciso avançar em projetos inovadores. "Queremos avançar rapidamente em áreas prioritárias, como integração financeira e energética, ferroviária e rodoviária, além da defesa", disse.
Atraso
Como anfitrião, Lula foi o primeiro a discursar, seguido pelo presidente boliviano, Evo Morales, e pela chilena Michelle Bachelet. Eles ressaltaram o ineditismo de estarem ali um indígena, um sindicalista e uma mulher, todos presidentes.
A cúpula foi realizada no Centro de Convenções Ulisses Guimarães. "Não poderia ser mais propício um lugar batizado com o nome do pai da nossa Constituição democrática", disse Lula. O evento começou com atraso de duas horas, por causa da demora no café da manhã entre Lula e os presidentes Rafael Correa (Equador) e Hugo Chávez (Venezuela). Com o atraso, o presidente peruano, Alán García, abandonou o local logo após assinar o tratado.
A única ausência entre os presidentes foi a do uruguaio Tabaré Vázquez, que enviou o vice Rodolfo Nin Novoa. Segundo a Folha apurou, Vázquez avisou que não iria com três semanas de antecedência, em parte por duvidar dos resultados concretos da reunião.
Após abertura da cúpula, os presidentes se reuniram a portas fechadas para discutir a crise entre Equador e Colômbia. Em entrevista coletiva, Lula disse estar de "alma lavada" com a criação da Unasul e a comparou à União Européia.
Folha de São Paulo

Não há agricultura sem devastação, diz governador de MT
Para Blairo Maggi, críticos da produção agrícola esquecem que alimentos não "nascem nas gôndolas do supermercado"
Em discurso em Itaúba (MT), governador diz que crítica de ministro Carlos Minc (Meio Ambiente) é causada "por desconhecimento"
No dia seguinte ao seu encontro com o ministro Mangabeira Unger (Assuntos Estratégicos), coordenador do PAS (Plano Amazônia Sustentável), o governador de Mato Grosso, Blairo Maggi (PR), no último dia 21, diante de uma platéia formada por políticos e agricultores de Itaúba (600 km de Cuiabá), disse que "não se faz agricultura sem retirar a floresta" e que produtores rurais carregam o estigma de destruidores da natureza, quando, na verdade, são responsáveis pelos alimentos que chegam às grandes cidades.
Para Maggi, os críticos do atual modelo de produção agrícola "se esqueceram" que produtos não nascem nas prateleiras dos supermercados. "Aqueles que vivem nas cidades se esqueceram de onde vem o frango, esqueceram de onde vem a carne. Eles acham que tudo aquilo nasce pronto lá na gôndola do supermercado. Que o Danoninho, o iogurte, nasce ali. Eles já não sabem mais que o leite tem que sair de uma vaca, criada em um lugar que já foi floresta", disse Maggi.
O discurso de Maggi foi gravado e repassado à Folha por sua assessoria. Em um dos trechos, diz: "Quer seja em Mato Grosso, São Paulo ou Rio Grande do Sul, não se faz agricultura ou pecuária sem retirar a floresta. Essa é a grande verdade".
Ainda no discurso, Maggi defendeu que "esse é o momento da construção de um novo pacto. Daqui para a frente, precisamos tirar esse estigma, esse preconceito sobre os setores produtivos. Nós concordamos com a atual política de não mais aberturas. Tanto é que a Sema [Secretaria Estadual de Meio Ambiente] está sendo rigorosa. Estamos trabalhando para construir algo diferente, em harmonia com a natureza, e retirar da terra o que é necessário para a gente viver."
Maggi reivindicou, ainda, a construção de uma política "diferenciada" para o Estado, em relação aos outros integrantes da Amazônia Legal. Segundo o governador, a população mato-grossense não é "extrativista". "Não aceitamos a mesma discussão que se faz para o Acre e o Amazonas. Nós não nascemos na floresta e não aprendemos a viver nela. Pelo contrário, a grande maioria daqueles que aqui moram veio de outros Estados para fazer a vida."
O "povo" de Mato Grosso "não pensa em destruir. O que ele pensa e foi ensinado é que lugar de mato não vale nada, governo não aparece, não tem cidade boa para se viver, não tem estrada. Então a participação dessas pessoas não é a de destruir, mas de construir uma vida melhor. Para isso, é preciso usar a natureza."
Sobre as críticas do ministro Carlos Minc (Meio Ambiente), Maggi disse considerar que são motivadas "por desconhecimento" e que tem certeza de que haverá entendimento. Ontem o governador informou que não tinha nada a comentar sobre as declarações porque elas haviam sido dadas em um evento público.
Folha de São Paulo

Presidente do Supremo diz que julgamento deve ser em junho
O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Gilmar Mendes, disse ontem em entrevista coletiva em Brasília que o julgamento das ações que contestam a demarcação da terra indígena Raposa/Serra do Sol (RR) deve acontecer no final de junho ou, no máximo, início de agosto.
Na última quinta-feira, o ministro sobrevoou a região, cuja forma de demarcação, no modelo contínuo e sacramentada por decreto presidencial, foi questionada diante do Supremo Tribunal Federal, principalmente por fazendeiros que produzem arroz na região.
Mendes fez a viagem até Roraima acompanhado dos ministros Carlos Ayres Britto, relator do caso no STF, e Cármen Lúcia Borges. Os três sobrevoaram, num avião da Força Aérea Brasileira, as cidades de Surumu, Pacaraima e a já quase deserta Água Fria. Desceram em Serra do Sol, a 400 quilômetros de Boa Vista, local em que mantiveram contato com índios da etnia Ingaricó.
Mendes disse que ainda não tem opinião formada sobre o caso. E, mesmo que tivesse, não poderia antecipar o seu voto. Afirmou, no entanto, que o STF terá a oportunidade de julgar um caso "de escola". E explicou:
"Estou convencido de que o tribunal tem em mãos um caso peculiar. Pela primeira vez vai se pronunciar, sob a Constituição Federal de 1988, acerca da soberania indígena, da presença ou não de militares [nessas áreas, que são de fronteira com a Venezuela e a Guiana] e sobre o dever/poder do Estado nessa situação", disse.
Preocupação
A interlocutores, segundo a Folha apurou, o presidente do Supremo disse estar preocupado com a atuação de ONGs na região, que, por vias transversas, acabam cumprindo o papel de Estado até mesmo nas áreas de saúde e educação.
No mínimo, entende Mendes, conforme revelou em conversas reservadas, o julgamento vai levar à revisão das formas de demarcação das terras indígenas, no sentido de submetê-las a um debate mais amplo do que manter, como acontece hoje, a decisão somente de acordo com os critérios estabelecidos pela Funai (Fundação Nacional do Índio).
Folha de São Paulo

Sucessão nos EUA / América Latina em foco
Obama diz apoiar invasões da Colômbia contra as Farc .Em plano para região, democrata fala em manter embargo a Cuba, mas aceita dialogar
Pré-candidato critica Hugo Chávez, elogia Brasil e fala de reciprocidade, em ataque ao que vê como desdém de Bush em relação a vizinhos
Em seu primeiro discurso totalmente dedicado à América Latina, o senador Barack Obama adotou tom cauteloso, de meio do caminho entre a atual política norte-americanas e as mudanças mais radicais que vinha prometendo na campanha. O pré-candidato democrata à sucessão de George W. Bush disse que, se eleito em novembro, manterá o embargo econômico a Cuba, apoiará invasões da Colômbia na luta contra as Farc e adotará postura crítica em relação a Hugo Chávez.
Em contrapartida, acenou com a possibilidade de se encontrar com o líder cubano Raúl Castro, disse que permitirá mais viagens e envio de dinheiro à ilha e criticou a falta de diálogo do atual governo com o presidente venezuelano. Num dos pontos mais polêmicos do que chamou de "Nova Parceria para as Américas", o democrata tomou o mesmo lado de Bush na ação recente mais controversa a ter lugar na região.
"Vamos apoiar integralmente a luta da Colômbia contra as Farc", afirmou, durante discurso em almoço oferecido pela entidade anticastrista Fundação Nacional Cubano-Americana (FNCA), em Miami, na Flórida. "Trabalharemos com o governo para eliminar o reino do terror dos paramilitares. Apoiaremos o direito da Colômbia de atacar terroristas que buscam abrigo seguro cruzando as fronteiras."
Em março, o governo do colombiano Álvaro Uribe mandou bombardear acampamento das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia no Equador, numa ação rejeitada por líderes da região, incluindo o Brasil, que resultou em incidente diplomático ainda não resolvido -e realimentado por arquivos de computadores de ex-líderes da guerrilha que citam Chávez e o presidente equatoriano, Rafael Correa.
Ao mesmo tempo, Obama prometeu acabar com o "medo" e levar "liberdade" à região. Ofereceu maior reciprocidade entre o país e seus vizinhos ao propor a inversão da máxima dos anos 60 atribuída ao ex-embaixador do Brasil em Washington e ex-chanceler brasileiro, general Juracy Magalhães (1905-2001), segundo a qual "o que é bom para os EUA é bom para o Brasil".
"Minha política para as Américas vai ser guiada pelo simples princípio de que o que é bom para o povo das Américas é bom para os Estados Unidos", discursou. Depois, faria um jogo de palavras com as duas leituras da palavra "freedom", em inglês, para dizer que as pessoas estão famintas por "liberdade política, liberdade religiosa, mas também por serem livres da necessidade, do medo".
O morde-assopra de Obama deve ser entendido à luz do atual momento político, do público e do local em que o discurso foi feito. A fala chega quando o provável futuro rival do senador, o republicano John McCain, questiona as credenciais de política externa do democrata ao chamá-lo de "ingênuo" por querer negociar com países considerados hostis.
Ainda, teve como platéia primeira cubano-americanos e seus descendentes, que são conservadores e compõem importante parcela do eleitorado de um dos Estados sem definição partidária clara -o que pode decidir a eleição num ano de disputa tão acirrada. "Há que se dar um desconto por isso", disse à Folha Mark Weisbrot.
Para o co-diretor do progressista Centro para Pesquisa Econômica e de Políticas, de Washington, "não há dúvida que a política do democrata para a região será substancialmente diferente da de Bush e McCain". Ele considera a justificativa de violação territorial por conta das Farc, no entanto, novidade "preocupante".
Brasil
Sobre o Brasil, Obama elogiou o desempenho econômico e a política energética do país, mas ressaltou as desigualdades sociais. No folheto distribuído por sua campanha, em que detalha a tal parceria proposta para o continente, cita o país como "um exemplo de grande potencial de energia renovável na América Latina, assim como de alguns dos percalços a evitar".
"A liderança do Brasil na arena dos combustíveis renováveis não chega sem preocupações", diz o texto. "A região amazônica, fonte mundial incrivelmente importante contra o aquecimento global, cobre cerca de 60% do Brasil e perdeu cerca de 20% de sua floresta para desenvolvimento, extração de madeira e agricultura." O democrata ecoa argumentos recentes de críticos do programa brasileiro, refutados pelo governo Lula.
Folha de São Paulo

Inpe contesta declarações de ministro
O diretor do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Gilberto Câmara, disse ontem que não será feita divulgação de novos números do desmatamento na próxima segunda-feira, conforme havia declarado o ministro Carlos Minc (Meio Ambiente). Câmara disse ainda que não partiu do órgão a informação, também dada por Minc, sobre um aumento de 60% das derrubadas em Mato Grosso.
"Segunda-feira agora, o Inpe vai divulgar uma nova estatística de desmatamento de terra. (...) Vai ser um dado ruim, vai ser um dado de aumento. E, para variar, mais de 60% em qual Estado? Quem sabe? Mato Grosso", disse Minc, em entrevista.
"Não foi o Inpe", disse Câmara à Folha. Segundo o diretor, a divulgação dos dados foi cancelada por necessidade de "revisão" dos números e pelo momento de tensão vivido desde a saída de Marina Silva. Câmara lembrou que Minc tomará posse só na terça e precisa de tempo para "entender a situação".
Sobre contestações de Mato Grosso -que diz ter identificado erro de 90% nos números do Inpe relativos ao último trimestre de 2007-, Câmara disse ter conversado com o secretário de Meio Ambiente do Estado, Luís Henrique Daldegan. "Disse que nosso objetivo não é ficar brigando com MT."
Daldegan confirmou o contato com o diretor do Inpe e disse que Minc, em outro telefonema, havia lhe relatado o recuo em relação ao anúncio da próxima semana.
Carlos Minc negou ontem que os dados do Inpe sobre o desmatamento na Amazônia estejam sob revisão. "Estão simplesmente formatando alguns mapas regionais."
Ele voltou a dizer que Mato Grosso é o principal responsável pelo aumento do desmatamento na região. "Entre 50% e 60% do conjunto de indícios fortes de desmatamento estão concentrados no Mato Grosso.
Folha de São Paulo

Entraves marcam criação de entidade para unir América do Sul
Unasul é formalizada sem que Lula vença resistências a conselho que integraria políticas de defesa de 12 países
A União Sul-Americana de Nações (Unasul) tornou-se efetiva ontem sob a convicção brasileira de que a América do Sul tem estofo suficiente para mudar o “tabuleiro do poder” mundial. Essa aposta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, expressa em seu discurso na abertura da reunião extraordinária de cúpula da Unasul, esfarelou em três vertentes. O lançamento do Conselho Sul-Americano de Defesa, o pilar da Unasul para a segurança regional, foi adiado por novas resistências e cautelas que se somaram às da Colômbia, que exigiu a classificação das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) como grupo terrorista.
O uso do encontro de Brasília para apaziguar definitivamente a crise na vizinhança igualmente fracassou, diante de novos ataques do presidente do Equador, Rafael Correa, à Colômbia. A terceira vertente foi a constatação de que não haverá recursos financeiros para alavancar a integração sul-americana - tema para o qual o próprio Lula chamou a atenção. O petista referiu-se à Unasul como um “pesado fardo” ao citar r a passagem da presidência temporária da Bolívia para o Chile.
“Uma América do Sul unida mexerá com o tabuleiro do poder no mundo. Não em benefício de um ou outro de nossos países, mas em benefício de todos”, afirmou o presidente brasileiro, em seu discurso. “Estamos deixando para trás uma longa história de indiferença e isolamento recíproco. Nossa América do Sul não será mais um mero conceito geográfico.”
A rigor, a reunião de Brasília cumpriu seu objetivo central - a assinatura do tratado constitutivo da Unasul, que dará as bases jurídicas para a ação desse novo organismo regional. Alan Garcia, presidente do Peru, assinou o texto, falou rapidamente sobre o quão importante lhe pareceu esse ato e voltou a Lima. Não esperou o encontro reservado entre os chefes de Estado presentes nem o almoço no Itamaraty - oportunidades para dissolver nódoas nas relações bilaterais.
Entusiasmado, Lula enumerou as vantagens comparativas da América do Sul. No plano econômico, destacou que a região tornou-se “um dos principais pontos de atração de investimentos no mundo”, graças à fase de crescimento com redução da desigualdade social. No plano político, citou o fato de todos os líderes sul-americanos terem sido eleitos em “pleitos democráticos e com ampla participação popular”.
“A América do Sul é, hoje, uma região de paz, onde floresce a democracia”, resumiu. “Esses progressos nos campos econômico e sócio-político nos conferem crescente projeção no novo mundo multipolar que se está constituindo.”
Ciente das oposições da Venezuela, Bolívia e Equador, Lula esquivou-se de defender a ampliação da produção e do uso dos biocombustíveis em seu discurso. Preferiu abordar o tema indiretamente. “Nossa região torna-se um interlocutor cada vez mais indispensável à medida que o mundo se vê diante da necessidade de compatibilizar segurança alimentar, suprimento energético e preservação do meio ambiente”, declarou. “Quando a escassez de alimentos ameaça a paz social em muitas partes do mundo, é em nossa região que muitos vêm buscar respostas.”
O encontro não chegou a ser plenamente contaminado pelas provas reunidas pelos investigadores da Interpol da colaboração dos governos da Venezuela e do Equador com as Farc. Mas o imbróglio espirrou na resistência pétrea do presidente colombiano, Álvaro Uribe, em somar-se ao Conselho Sul-Americano de Defesa - um projeto caro a Lula, que havia designado o ministro da Defesa, Nelson Jobim, para costurá-lo. Uribe exigiu a qualificação das Farc como grupo terrorista.
“O continente deve atrever-se a qualificar como terrorista todo grupo violento que atente contra a democracia”, afirmou, depois de uma conversa reservada com Lula. “Sonho que a América do Sul avance para uma sociedade democrática em que, à semelhança da Europa, não se permita a existência de grupos violentos, como os que temos”, completou, para em seguida indicar que sua resistência não se devia à presença da Venezuela de Hugo Chávez no mesmo Conselho.
Lula ainda insistiu, ao discursar, na criação do Conselho ainda ontem e chegou a propor o agendamento de uma reunião para “detalhar os objetivos e o funcionamento” do órgão no segundo semestre deste ano. Mas conseguiu apenas a aprovação da sugestão da presidente do Chile, Michele Bachelet, de criação de um grupo de trabalho para construir um projeto em 90 dias. Além da Colômbia, o Uruguai mostrou-se reticente.
“Fracasso teria sido se os chefes de Estado não tivessem aprovado a criação do grupo de trabalho”, acudiu Bachelet, quando Lula foi questionado pela imprensa se teria fracassado nessa aspiração.

Thursday, May 08, 2008

AMAZONAS
Corpos de mais duas vítimas de naufrágio são localizados
Pescadores localizaram ontem, no rio Solimões, mais dois corpos de passageiros do barco Comandante Sales, que naufragou no último dia 6, em Manacapuru (84 km a oeste de Manaus), elevando para 48 o número de mortos no acidente.
Estima-se que ainda haja seis pessoas desaparecidas -o número é incerto porque o barco estava em situação irregular e não havia lista de passageiros. Ontem, o Corpo de Bombeiros informou que dois supostos passageiros que eram dados como desaparecidos estão vivos e não participaram da viagem.
A Defesa Civil de Manacapuru anunciou que a polícia investiga a suspeita de que dois tripulantes do barco estejam vivos. Eles são irmãos do dono da embarcação, morto no acidente.
"É quase certo que eles não tenham morrido, mas não estariam no município por temerem represálias", disse a secretária da Ação Social do município, Marta Régis.
Segundo os bombeiros, os dois corpos localizados ontem estavam a 80 quilômetros de distância um do outro. (KÁTIA BRASIL)
Folha de São Paulo SANTA CATARINA
Bombeiros cessam buscas por padre que voou em balões
Bombeiros encerraram ontem as buscas pelo padre Adelir Antônio de Carli, 41, desaparecido desde o dia 21, após levantar vôo amarrado a balões de festa, em Paranaguá (96 km de Curitiba).
Desde então, bombeiros voluntários de Penha (120 km de Florianópolis), região onde restos de balões usados pelo padre foram encontrados, trabalharam por mais de 20 dias seguidos em busca de pistas. Cerca de 90 bombeiros cumpriram 120 horas de buscas por terra, água e ar.
Ele fez o último contato por rádio, com bombeiros, em São Francisco do Sul (SC). "O que tinha que ser feito foi feito. Não acho que podemos localizá-lo nessa região", disse o comandante das operações, Johnny Coelho. Lanchas e helicópteros da polícia e de empresários foram usados nos trabalhos.
A Marinha já havia encerrado as buscas ao padre no último dia 26. Apesar do fim das buscas, integrantes da Pastoral Rodoviária, projeto de apoio a caminhoneiros idealizado pelo padre, afirmam ainda ter esperanças de que o religioso esteja vivo. (MATHEUS PICHONELLI)
Folha de São Paulo Barco ignora risco e viaja no escuro para fugir de fiscal
Folha fez viagem semelhante a que acabou em naufrágio no domingo passado. Barco com salva-vidas rasgados e sem lista de passageiros só saiu do porto irregular quando lanchas da Marinha foram embora
KÁTIA BRASIL
Cruzar os rios da Amazônia em barcos que ligam as cidades ribeirinhas é viver sob risco de naufrágio. Imprudentes, donos das embarcações driblam a fiscalização da Marinha com conivência de passageiros. Quem ousa reclamar perde o direito de seguir viagem.
No domingo passado, um barco superlotado e em situação irregular naufragou no rio Solimões, em Manacapuru (84 km a oeste de Manaus). Até ontem à tarde, 46 corpos de vítimas haviam sido resgatados. Dez pessoas ainda estariam desaparecidas.
Para verificar as condições dessas viagens, a reportagem tomou um barco em Manaus na última quinta-feira. O destino: Manacapuru, a cidade do acidente de domingo. Sete horas rio Solimões acima separavam os municípios.
O trajeto começa no maior porto irregular do Amazonas, as escadarias da avenida Manaus Moderna. Às margens do rio Negro, camelôs, carregadores, comerciantes de passagens e pescadores dividem espaço em um ambiente poluído.
A repórter e o repórter-fotográfico compram, por R$ 15 cada um, bilhetes para o percurso na embarcação Capitão Antônio. Com dois andares em madeira, o barco é semelhante ao acidentado no Solimões, o Comandante Sales.
Com início marcado para 17h, a viagem só começou às 18h15, quando duas lanchas da Marinha finalizaram o expediente. "As baratinhas [lanchas da Marinha] estão ali, vamos esperar um pouco", disse um passageiro a Argemiro Auzier, 63, o comandante do Capitão Antônio.
Tem lista de passageiros
Dentro do barco, com capacidade para 60 pessoas, outra irregularidade é notada logo no início da viagem: não havia lista dos 22 passageiros, que se acomodavam em redes atadas aos conveses.
O mesmo ocorreu com a embarcação Comandante Sales, daí a dificuldade de precisar o número de desaparecidos até agora.
Com cinco tripulantes e um cachorro, o Capitão Antônio tem apenas um banheiro, fétido. Carregava oito toneladas de mercadorias (abaixo da capacidade máxima, de 20 toneladas) entre alimentos e materiais de construção. Os salva-vidas, fabricados em 2003, estavam vencidos, sem apitos e rasgados.
Mesmo antes de desatracar, Auzier e o dono do barco, Antônio Macena, questionaram a Folha sobre o objetivo da reportagem. Preocupados, diziam não querer "problemas com a Marinha".
O comandante, único a conceder entrevista, disse que o barco estava em situação legal. Afirmou conhecer bem "99% dos rios do Amazonas". Para ele, acidentes como o de domingo passado só ocorrem por "imprudência do comandante, bebida e problemas no motor".
Durante o percurso, os procedimentos não foram o de uma viagem regular.
No escuro
Logo que escureceu, Macena mandou apagar as luzes do barco. O repórter-fotográfico acendeu uma lâmpada no convés superior, rapidamente desligada por outro passageiro.
No breu do rio Solimões, o barco fica quase invisível aos olhos dos fiscais. Até Manacapuru, o Capitão Antônio percorreu vilas, ultrapassou dezenas de embarcações, enfrentou ondas provocadas por outros barcos, bancos de areia e remoinhos sem acender as luzes dos conveses.
A única parada foi em Iranduba (25 km de Manaus), às 21h, para compra de gás, cervejas e refrigerantes em um porto flutuante.
A maior parte dos passageiros eram parentes da autônoma Waldilene da Silva, 29, que seguiam para uma festa em Caapiranga. Com exceção de duas adolescentes no grupo de 12 pessoas, todos bebiam sem parar ao som do brega, gênero popular no Norte do país. "Conhecemos o dono do barco e nos sentimos seguros", disse Waldilene.
Por volta da 1h30, o barco atracou em Manacapuru. Não havia qualquer fiscalização da Marinha. A reportagem desceu no porto.
Nas paredes do Capitão Antônio, sem informações sobre a empresa dona do barco ou dados sobre lotação, apenas uma placa com a frase: "Deus abençoe quem entra nesse barco, proteja quem fica e leva em paz quem sai".
Folha de São Paulo Barcos de porto ilegal levam 90% dos passageiros
No centro antigo da capital amazonense, as escadarias da avenida Manaus Moderna, às margens do rio Negro, formam o maior porto ilegal do Amazonas. É o ponto de partida da viagem feita pela Folha até Manacapuru, a 84 km dali. Estima-se que mil embarcações atraquem por dia no local. Elas transportam 90% dos 180 mil passageiros que trafegam por mês pelos rios Negro e Solimões, que formam o Amazonas.
Quando o rio Negro está cheio, passageiros têm de sujar os pés na água poluída, atravessar passarelas improvisadas de madeira e balsas para acessar os barcos. Nas passarelas, o que se vê é um entra-e-sai de gente à procura de embarcações, candidatos a passageiros que se misturam a camelôs, carregadores, barqueiros e pescadores. Todos trabalhando em condições insalubres.
As passagens são vendidas nos barcos ou em bancas ao longo da chamada Feira da Banana. Os destinos são os 62 municípios amazonenses, além de cidades no Pará e em Rondônia. Em cima das balsas, camelôs vendem lanches e bebidas alcóolicas. À noite, o local vira ponto de prostituição e de tráfico de drogas.
A 50 metros do ponto clandestino, fica um porto legal, a Estação Hidroviária do Porto de Manaus, que atende somente 4.775 passageiros por mês. Como as passagens ali são mais caras, os clientes preferem as escadarias da Manaus Moderna, onde os barcos atracados não pagam taxas.
A diferença de preço das passagens nos dois portos chega a 20%. Para Coari (370 km de Manaus), por exemplo, o bilhete sai por R$ 72 no porto, contra R$ 60 nas escadarias.
"Infelizmente isso [predomínio do transporte informal] é uma realidade cultural e social", afirma Carlos Alexandre De Carli, diretor-presidente do Porto de Manaus.
Folha de São Paulo Em choque, sobrevivente não se lembra de nomes nem idade
O jovem que foi resgatado 24 horas após o naufrágio do barco Comandante Sales, no rio Solimões, em Manacapuru (AM), na madrugada do último domingo, ainda está em estado de choque. Esquece a data do nascimento, os nomes dos amigos.
A reportagem o encontrou em casa na última sexta, onde agora ele passa a maior parte do tempo.
Leandro Souza Monteiro, 22, foi achado por pescadores agarrado a uma moita de capim no rio. No momento, disse que tinha 18 anos. "Não lembro a data do meu nascimento."
O rapaz é trabalhador rural e estudou até a terceira série do ensino fundamental. Mora numa palafita na periferia. Sua mãe, Sandra Monteiro, 40, e a irmã, Alessandra, 17, chegaram a procurá-lo no IML (Instituto Médico Legal) em Manaus. Ele foi encontrado vivo na segunda.
Disse que viajava na proa do barco. "Não estava chovendo. Quando passamos no rebojo [remoinho], o barco virou. Pulei, comecei a nadar, fui parar na moita de capim. Foi minha salvação."
Monteiro afirmou que não se feriu nem foi mordido por peixes. "Fiquei agarrado ao capim. Só lembrava da minha mãe. Pedi por Deus. Tinha hora que eu não sabia o que fazer", disse ele, que não bebeu água do rio e ficou debaixo de "muito sol". "Estava muito cansado. Senti muita fome e muita sede."
O rapaz calcula que passava das 13h de segunda quando foi encontrado. "Comecei a chorar. Nunca mais vou esquecer isso, nasci de novo."
Monteiro estima que muitos passageiros morreram porque estavam em pé no convés superior. Dez pessoas ainda estão desaparecidas, segundo a Marinha. Entre elas, Sherllys Cruz, 18, que o pai, o vendedor de churrasquinho Alcemir, ainda procurava na última sexta. (KB)
Jornal do Brasil Número de mortos chega a 48
Mais dois corpos de passageiros são encontrados nas águas do Solimões
Mais dois corpos de vítimas do naufrágio ocorrido no rio Solimões (AM), no último dia 4, foram encontrados ontem. Os corpos são de um homem e uma mulher. Os corpos serão encaminhados ao Instituto Médico Legal do Amazonas, onde as famílias dos desaparecidos deverão realizar o reconhecimento. Se confirmadas as identidades dos dois corpos encontrados, cai para 5 o número de desaparecidos, e sobe para 48 o número de corpos resgatados até o momento.
Segundo José Melo, secretário estadual de Governo, três pessoas que tinham seus nomes na lista de desaparecidos não estavam na embarcação, e foram encontradas ainda com vida.
O acidente aconteceu na localidade de Lago do Pesqueiro, na cidade de Manacapuru, a 84 km a oeste de Manaus, aproximadamente 20 minutos depois que a embarcação Comandante Sales 2008 partiu de Lago, onde ocorria uma Festa do Divino. O barco tombou para um lado e foi invadido pela água.
De acordo com o coronel Roberto Rocha, da Defesa Civil estadual, as buscas devem continuar até terça-feira.
Na última quinta-feira, o delegado Antônio Rodrigues, responsável pelo caso, confirmou que há indícios de que o acidente tenha sido causado por excesso de pessoas na embarcação.
– Há pessoas que disseram ter até 150 passageiros – afirmou.
A capacidade do Comandante Sales, um barco de madeira com dois andares e cerca de 20 metros de comprimento, era de 50 pessoas. A embarcação não estava regularizada na Capitania dos Portos.
Segundo ele, todos os sobreviventes relatam superlotação no barco.
O Estado de São Paulo Liberada rodovia bloqueada pelos índios em RR
PF obedece a decisão do Supremo e desmonta barreira feita por grupo que exige a expulsão dos arrozeiros
Loide Gomes
A Polícia Federal liberou ontem a Rodovia RR-319, na terra indígena Raposa Serra do Sol, a 105 quilômetros de Boa Vista, que estava bloqueada desde segunda-feira por indígenas que exigem a expulsão dos arrozeiros da reserva. A ação da PF atendeu a uma determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Carlos Ayres Britto ao Ministério da Justiça.
O procurador-geral de Roraima, Luciano Queiroz, disse que entrou com ação no STF, em nome do Estado, sábado. “E o ministro despachou às 21 horas, de sua casa, em Brasília.” Britto é relator das ações no STF que contestam a homologação da Raposa Serra do Sol em área contínua, o que obrigaria à retirada de todos os não-índios. O governo de Roraima quer a reserva em ilhas, com preservação das fazendas de arroz.
No momento em que a PF cumpria a determinação do STF, o juiz Helder Girão Barreto, da Justiça Federal de Roraima, ordenou a liberação da rodovia, conhecida como Transarrozeira. Ele concedeu liminar em ação ajuizada pelo arrozeiro Ivo Barilli, dono da Fazenda Tatu, que fica a 25 quilômetros da barreira e estava isolada.
Barilli não podia transportar de insumos e sementes para a fazenda nem retirar sacas de arroz. Ele tinha cinco carretas paradas na rodovia e calculava que 2.500 sacas de arroz já tinham sido perdidas. Ontem à noite mesmo o arrozeiro conseguiu entrar na fazenda e as carretas foram para Boa Vista.
À tarde, o superintendente da PF, José Maria Fonseca, já fora até a barreira para negociar. Segundo Fonseca, os índios exigiram mais policiamento para evitar tráfego de pessoas armadas e “disseram que há pessoas transitando com carabinas, em caminhonetes.” Ele informou que vai reforçar o efetivo da PF num posto na área.
O procurador-geral de Roraima contou que pediu ainda ao STF que proíba novos bloqueios até a decisão definitiva sobre as ações que contestam a Serra do Sol, que deve sair em duas semanas. “Se o próprio poder estatal foi proibido de retirar não-índios da reserva, alguns índios não podem se revestir do poder de polícia, obstruir uma rodovia e impedir o direito de ir e vir em área que ainda não foi definida se é ou não terra indígena.” Queiroz disse que entrou com ação pedindo o desbloqueio depois de tentativas fracassadas de acordo com os índios.
A tensão cresceu na região durante a semana. Além da barreira, funcionários da Fazenda Depósito dispararam contra índios que tentavam ocupar uma área na terça-feira, ferindo nove deles. O dono da fazenda, Paulo César Quartiero, foi preso e levado a Brasília. Ele é prefeito de Pacaraima e líder dos arrozeiros. Sua prisão provocou protestos de índios contrários à reserva. Surumu, distrito de Pacaraima, foi um dos locais que recebeu reforço da PF e da Força Nacional de Segurança.
O Estado de São Paulo MANACAPURU – AM
Número de mortos sobe para 48
Foram encontrados ontem mais dois corpos no Rio Solimões, o que eleva para 48 o número de mortos no naufrágio do Comandante Sales 2008, que ocorreu no dia 4. O barco naufragou nas proximidades de Manacapuru (a 68 quilômetros de Manaus). Os corpos encontrados são de um homem e de uma mulher. Segundo informações da Marinha, a embarcação navegava irregularmente.
O Globo Navio de ajuda afunda em Mianmar
Mortos chegam a 28 mil e podem aumentar se alimentos não chegarem
RANGUN. Um barco da Cruz Vermelha que transportava arroz e água potável para as vítimas do ciclone Nargis afundou ontem, no mesmo dia em que especialistas alertavam para o risco de uma grande catástrofe humanitária em Mianmar caso as vítimas não recebessem alimentos. O número oficial de mortos alcançou 28 mil (ONGs dizem que pode chegar a 80 mil), mas, segundo autoridades humanitárias, poderia triplicar se a ajuda não chegasse logo.
O barco levava mantimentos para mais de mil pessoas e constituía o primeiro embarque da Cruz Vermelha para a área do desastre, informou a instituição. Os quatro funcionários que viajavam no barco nada sofreram.
O naufrágio é o mais recente retrocesso na distribuição de alimentos. Ainda que a ajuda internacional tenha começado a chegar lentamente, as autoridades locais proibiram a entrada de quase todos os profissionais estrangeiros. A junta militar que preside o país quer que a distribuição das doações seja feita pelo próprio governo.
O navio levava cem sacos de arroz, 1.300 galões de água potável, dez mil pastilhas para purificação de água e 30 caixas de roupas. O naufrágio ocorreu depois de um choque com um tronco. Pouca coisa se salvou.
A televisão estatal de Mianmar anunciou ontem que o número de mortos na tragédia subiu de cinco mil a 28.458, uma semana depois da passagem do ciclone pelas principais cidades do país.
A televisão estatal disse ainda que o número de desaparecidos baixou para 33.416. Para muitos especialistas em ajuda humanitária, os números poderiam aumentar consideravelmente.
- É vital que a população tenha acesso a recursos como água potável afim de evitar que ocorram mortes desnecessárias e sofrimento - afirmou a chefe regional da ONG Oxfam, Sarah Ireland. - Estão presentes todos os fatores necessários para que a situação se torne uma catástrofe de saúde pública, que poderia multiplicar o número de mortos por 15.
TRAGÉDIA NO AMAZONAS
45 mortos e 26 desaparecidos

As buscas de ontem no Rio Solimões elevaram para 45 o número de mortos confirmados no naufrágio da embarcação Comandante Sales 2008, ocorrido no domingo na região de Manacapuru, distante cerca de 80km de Manaus (AM). De acordo com o Corpo de Bombeiros, os 11 corpos encontrados ontem estavam entre as cidades de Manacapuru, Iranduba e Manaus. As autoridades locais divulgaram que ainda restam 26 desaparecidos — cálculo feito a partir de depoimentos de sobreviventes e da procura de parentes por familiares.

No próprio domingo e na segunda-feira, as equipes localizaram 17 corpos. Outras 17 vítimas foram encontradas na terça. Até agora, 70 pessoas conseguiram ser resgatadas com vida. O Instituto de Medicina Legal (IML) de Manaus (AM) já identificou e liberou 34 corpos para os familiares das vítimas.

Sem documentação
O acidente ocorreu quando o barco saía da localidade de Lago Pesqueiro. Levava pessoas que participavam da chamada Festa do Divino. No momento do acidente, a embarcação estava se deslocando para Manacapuru. O barco não tinha lista de passageiros — devido a isso, não há certeza sobre o número de possíveis vítimas — nem documentação que permitisse o transporte de passageiros. Ele chegou a ser flagrado no início do ano, mas, sem ter como mantê-lo retido, a Capitania dos Portos liberou a saída da embarcação, com o compromisso de que o proprietário, Francisco Sales, o mantivesse parado enquanto a situação não fosse regularizada. Sales nada fez. E acabou morrendo no acidente de domingo.


Folha de São Paulo Irã é ameaça para América Latina, dizem EUA
Para diplomata, Teerã usa região para fustigar Washington; ministro colombiano ataca intenção "expansionista" de Chávez

O chefe da diplomacia americana para América Latina, Thomas Shannon, disse ontem que o Irã utiliza a região para romper o isolamento internacional e fustigar os EUA e que o país persa pode se tornar "um fator de violência" no continente.

Shannon, secretário-assistente de Estado para o Hemisfério Ocidental, afirmou que o Irã, a quem os EUA acusam de apoiar terroristas, "encontra na América Latina uma forma de mostrar que pode se expressar". "É uma forma de atuar contra nós", disse, na conferência anual organizada pelo Conselho das Américas, que reúne empresas e investidores americanos com interesses na região.

O presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, tem estreitado relações diplomáticas com a Venezuela de Hugo Chávez, principal voz antiamericana na região. Os dois países, em encontros com tom "antiimperialista", já assinaram cerca de 200 convênios num total de US$ 9 bilhões. No poder, Chávez já visitou seis vezes Teerã.

Ahmadinejad também tem se aproximado da Bolívia de Evo Morales, aliada de Caracas, país que visitou em 2007 para fechar acordos de cooperação.

Shannon afirmou que os serviços de inteligência dos EUA estão monitorando as conexões entre o partido e a milícia radical xiita Hizbollah, com base no Líbano, e grupos ilegais na região. Voltou a acusar o Irã de ter tido "um papel" no atentado terrorista em uma associação israelita que matou 85 pessoas em Buenos Aires, em 1994.

"Chamamos os serviços de inteligência e policiais [da região] a monitorar essas atividades, porque não queremos que o Irã se converta em fator de violência nas Américas", disse.

Bush e Colômbia
O presidente dos EUA, George W. Bush, também falou no encontro, nas instalações do Departamento de Estado americano, em Washington, e voltou a cobrar a aprovação do Tratado de Livre Comércio do país com a Colômbia, barrado pela maioria democrata no Congresso, e a criticar Chávez.

Defendeu o governo do aliado colombiano Álvaro Uribe, alegando que ele tem de lidar com a Venezuela, "um vizinho hostil e antiamericano", que "forjou uma aliança com Cuba e colabora com os terroristas das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia)". Disse que o país oferece um "santuário seguro" à guerrilha.

As críticas a Chávez e aliados foram reforçadas pela dura palestra do ministro da Defesa da Colômbia, Juan Manuel Santos, para quem os governos "bolivarianos" são "neopulistas e autocráticos", não respeitam a propriedade privada e nem os direitos democráticos.

"O espectro de que falo é essencialmente expansionista e não hesitará em violar o princípio da não-intervenção, e usar vastos recursos, incluindo narcodólares", continuou o ministro, acrescentando que se o movimento tiver êxito, a região "retrocederá" décadas.

As declarações de Santos foram os ataques mais duros desde a crise diplomática na região, detonadas pelo bombardeio de Bogotá a um acampamento das Farc em território equatoriano e março.


Jornal do Brasil Lista de mortos aumenta para 41
Bombeiros estimam que outros 25 passageiros estejam desaparecidos

Manaus
O Corpo de Bombeiros confirmou ontem que 41 corpos de vítimas do naufrágio ocorrido na madrugada de domingo foram resgatados das águas do rio Solimões, no Amazonas. Equipes mantêm as buscas a outras vítimas.

De acordo com o setor de Comunicação dos bombeiros, foram resgatados os corpos de 22 homens, 18 mulheres e uma criança. Ao menos 33 já foram identificados pelo Instituto Médico Legal (IML).

O acidente aconteceu na localidade de Lago do Pesqueiro, na cidade de Manacapuru (AM), quando a embarcação transportava 80 pessoas, de acordo com a Marinha. Os bombeiros afirmam que uma lista não oficial aponta que entre 20 e 25 pessoas permanecem desaparecidas.

– É difícil precisar o número exato pois não havia um registro oficial de quantos passageiros o barco transportava – observa a secretária de Trabalho, Assistência Social e Habitação da prefeitura do município, Marta Regis Afonso.


O Estado de São Paulo Exército terá mais pelotões em áreas indígenas
Planalto quer mostrar que não há empecilho para entrada e atuação de militares em reservas
Tânia Monteiro e Vannildo Mendes

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva autorizou ontem o Exército a instalar cinco novos pelotões de fronteira em terras indígenas, preferencialmente na Região Norte, na área da reserva Raposa Serra do Sol, vizinha à Guiana e à Venezuela. Isso elevará o número de pelotões dos atuais 24 para 29. “É o mínimo para uma implantação imediata. Mas será preciso instalar muito mais pelotões porque a área é muito rarefeita”, disse ao Estado o ministro da Defesa, Nelson Jobim.

Segundo ele, ao fim da reunião com Lula, o ministro da Justiça, Tarso Genro, e o comandante do Exército, Enzo Peri, ficou acertado que a Força apresentará o plano de criação dos pelotões dentro de 40 dias. “E a instalação é para acontecer em seis meses”, afirmou Jobim.

O governo decidiu ainda que vai inserir um artigo no Decreto 4.412, de outubro de 2002, que “dispõe sobre a atuação das Forças Armadas e da Polícia Federal nas terras indígenas”. O objetivo é deixar bem claro que não há empecilho de nenhuma natureza para a entrada, ocupação e operação do Exército nas áreas indígenas.

O Brasil não vai aceitar, por exemplo, a recomendação da Declaração dos Povos Indígenas, aprovada na Organização das Nações Unidas (ONU) no ano passado, segundo a qual será preciso autorização do Conselho Nacional de Defesa para o envio de tropas para as reservas. O Brasil assinou a declaração, apesar de ela falar em “autodeterminação” para os territórios indígenas. Estados Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia não aprovaram o texto da ONU.

As decisões tomadas ontem são uma resposta ao questionamento feito por militares e civis em torno da ação de algumas organizações não-governamentais (ONGs) que chegam a barrar a entrada dos militares nas áreas indígenas. Em entrevista ao Estado, no dia 27 de abril, o deputado e ex-ministro Aldo Rebelo (PC do B-SP) disse ter presenciado ONGs fazendo isso no Norte do País.

DESARMAMENTO
De acordo com Tarso, o governo quer estender à população indígena da Raposa Serra do Sol a operação de desarmamento. A ofensiva já atingiu fazendeiros e jagunços, na segunda-feira, depois do conflito em que dez índios foram feridos a bala.

O ministro disse que a situação está sob controle e não há risco imediato de novo conflito, mas o governo se antecipará a uma eventual convulsão após a decisão final que o Supremo Tribunal Federal (STF) tomará, nos próximos dias, sobre a demarcação da reserva. “Vamos desarmar toda a região, não só fazendeiros, mas índios e não-índios em geral, de modo a restabelecer a paz e a normalidade na área”, disse. “Se alguém for pego com arma será desarmado e responderá a processo legal.”

A posição do governo, segundo o ministro, continua sendo em favor da demarcação da reserva em área contínua, conforme estabelece o decreto de abril de 2005, mas enfatizou que qualquer que seja a decisão do STF ela será respeitada. “A decisão que o STF tomar será acatada como a posição do estado.”


O Estado de São Paulo ACIDENTE
Mais 12 corpos resgatados no AM
Já chegam a 46 os mortos em naufrágio no Rio Solimões, segunda maior tragédia no Estado em dez anos
André Alves

O naufrágio do barco Comandante Sales 2008, ocorrido na madrugada do domingo, no Rio Solimões, já é considerado o segundo maior dos últimos dez anos no Amazonas, em número de vítimas. O número de mortos deste acidente chega a 46. Ontem, as equipes de resgate que “varrem” o rio em busca de desaparecidos encontraram mais 12 corpos, alguns, a até 30 quilômetros do local em que ocorreu o naufrágio.

De acordo com o comandante do Corpo de Bombeiros, coronel Antônio Dias, entre os 12 corpos encontrados ontem havia um homem e uma mulher que estavam juntos e foram resgatados a 20 quilômetros de distância do local do acidente. Outros corpos foram localizados perto do encontro dos Rios Negro e Solimões, próximo da Ceasa de Manaus (Central de Abastecimento do Amazonas), a 30 quilômetros de onde o barco Comandante Sales naufragou.

Ao todo, foram oito homens e quatro mulheres resgatados ontem. O coronel Antônio Dias acredita que os corpos encontrados a quilômetros de distância são de pessoas que tentaram se salvar, mas, sem saber para onde nadavam, acabaram indo para o meio do Rio Solimões, e foram levados pela correnteza. A embarcação Comandante Sales 2008 naufragou na madrugada do último domingo, às 5h45, antes do sol nascer.

Para o prefeito de Manacapuru, Washington Régis, cidade natal de todas as vítimas do acidente, o número total de passageiros mortos na tragédia poderá chegar a 50. Até ontem, a estimativa era de que pelo menos dez pessoas continuavam desaparecidas. Diariamente, mais queixas de parentes reclamando por familiares desaparecidos chegam à Prefeitura de Manacapuru e ao Corpo de Bombeiros.

NÚMEROS
Em quantidade de vítimas, o acidente com o barco Comandante Sales 2008 é inferior apenas ao naufrágio da embarcação Ana Maria VIII, que afundou no Rio Madeira em 1999, também no interior do Amazonas, deixando 52 mortos. A informação é do 9º Distrito Naval, responsável pela fiscalização de barcos na Amazônia Ocidental (Amazonas, Roraima, Rondônia e Acre).

Nos últimos três anos ocorreram 50 naufrágios na Amazônia Ocidental, que vitimaram 64 pessoas. Ao todo, foram 132 acidentes (entre colisões e naufrágios) de 2005 a 2008, provocando 98 vítimas fatais. Só em 2005 houve 34 naufrágios na Amazônia Ocidental, segundo dados da Marinha. Em 2006, foram 9 e, no ano seguinte, 12. Com o naufrágio do Comandante Sales 2008 chega a dez o número de naufrágios só este ano na região.

A malha fluvial da Amazônia Ocidental mede, aproximadamente, 22 mil quilômetros. A Capitania dos Portos Fluvial da Amazônia Ocidental tem 550 homens para fiscalizar cerca de 16 mil embarcações legais que trafegam a região. Segundo o comandante da Capitania dos Portos, Dennis Teixeira, o número de agentes é suficiente para monitorar toda a região.

BUSCAS
As buscas por corpos de desaparecidos ainda conta com um batalhão de aproximadamente 100 homens, entre agentes da Marinha, do Exército, dos Bombeiros e das policiais Civil e Militar. Um helicóptero e 14 lanchas são usados na operação.


O Estado de São Paulo EUROPA
Russos mostram força em parada

O Kremlin planeja coroar a cerimônia de posse de Dmitri Medvedev com a tradicional parada militar anual, que celebra, amanhã, a vitória russa sobre a Alemanha nazista em 1945.

O desfile deste ano na Praça Vermelha será o maior desde a época da Guerra Fria, com aviões bombardeiros, canhões, lançadores de mísseis e colunas de tanques. Será a primeira vez desde 1990, um ano antes do colapso da União Soviética, que a parada apresentará artilharia pesada.

Os EUA afirmaram que não estavam preocupados com a parada militar russa. “Se eles querem pegar aqueles equipamentos velhos e levá-los para dar uma volta, que fiquem à vontade”, disse, na terça-feira, Geoff Morrel, secretário do Pentágono.

Segundo analistas, a gigantesca parada é uma demonstração de força de Moscou e também uma maneira de mascarar as atuais condições de seu Exército, cujo poderio e a mentalidade ainda estão muito ligados ao passado soviético.

“Eles vão exibir os equipamentos militares mais modernos que possuem, mas esses armamentos ‘de última geração’ são bastante obsoletos”, disse à agência ‘Reuters’ o general da reserva holandês Marcel de Haas, pesquisador do instituto Clingedael.

O poderio militar russo tem sido o motivo de atenção internacional. Moscou ameaçou, por exemplo, atacar a Geórgia se o país invadir regiões separatistas apoiadas pela Rússia, como a Abkházia.


O Estado de São Paulo SIDERURGIA
CSN investirá US$ 2,2 bi no Porto de Sepetiba
Steinbruch diz que a CSN vai se tornar a segunda maior siderúrgica do mundo em valor de mercado
Natalia Gómez e Mônica Ciarelli

A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), que hoje ocupa o quinto lugar no ranking siderúrgico mundial, anunciou ontem investimento de US$ 2,2 bilhões (R$ 3,7 bilhões, ao câmbio atual) na ampliação de suas instalações no Porto de Sepetiba, no Rio. O projeto, que estará concluído até 2013, visa atender ao aumento das exportações de minério de ferro e produtos siderúrgicos. Prevê até a construção de um porto privativo, já batizado de Lago de Pedra, tradução do tupi Itaguaí, município onde está localizado o porto.

O anúncio foi feito durante conferência com analistas do mercado financeiro para apresentação do balanço da companhia. No primeiro trimestre a CSN registrou lucro de R$ 767 milhões, uma alta quase inexpressiva em relação ao resultado do mesmo período de 2007, de R$ 763 milhões. Mas não suficiente para frear o entusiasmo do presidente da empresa, Benjamin Steinbruch, que chegou a prever para o segundo trimestre o melhor resultado de toda a história da companhia.
“Temos todas as matérias-primas compradas aos preços antigos e contaremos com os preços mais elevados de aço e minério de ferro”, disse. O direcionamento das vendas de aço para o mercado interno, que oferece melhores preços, ajudará a companhia. Ele calcula que o mercado de minério de ferro permanecerá aquecido até 2012, graças ao que classificou como um ciclo virtuoso na demanda mundial, impulsionado pela China e por outros países emergentes, como Índia, Rússia e Brasil. “Não vejo como a China poderia parar de crescer”, afirmou.

Steinbruch também assumiu o compromisso de levar a CSN à segunda colocação no ranking do setor, em valor de mercado, até o dia da apresentação dos resultados do segundo trimestre. Segundo ele, o que separa hoje a CSN da coreana Posco, segunda maior do mercado, é um valor de US$ 3 bilhões. A Posco tem valor de U$ 44,2 bilhões. “Temos essa obrigação, mas não é uma questão de criatividade. É a maturação dos investimentos realizados pela companhia”, disse.
Nos próximos quatro ou cinco anos, a empresa pretende chegar a US$ 90 bilhões de valor de mercado - a maior empresa do mundo no setor, a Arcelor Mittal, vale hoje US$ 144 bilhões. “Estamos vivendo um bom momento para o mundo por causa da entrada de novos consumidores”, afirmou.

PORTO
O porto privativo da CSN funcionará próximo ao Porto de Sepetiba, em uma área pertencente à companhia. O novo terminal terá investimentos de US$ 719 milhões, além de US$ 283 milhões em uma área de armazenagem. Segundo o diretor de portos e logística da companhia, Davi Cade, o porto terá como vantagem a distância em relação aos centros urbanos e a proximidade da ferrovia da MRS. “O porto privativo está em fase inicial de licenciamento”, disse.

Segundo Cade, o fato de o terreno pertencer à CSN torna o custo do projeto mais competitivo em comparação aos portos públicos. A capacidade anual será de 60 milhões de toneladas de minério de ferro, 12 milhões de toneladas de carvão e 11 milhões de toneladas de carga geral e produtos siderúrgicos.
O projeto inclui a construção de um centro de apoio logístico que ficará no arco que liga todas as rodovias que chegam ao Rio de Janeiro e próximo ao porto de Sepetiba.

CASA DE PEDRA
O diretor-financeiro da CSN, Otávio Lazcano, foi enfático ao afirmar que a empresa nunca se comprometeu oficialmente a fazer uma oferta pública de ações da Mina de Casa de Pedra. “Nunca houve uma data ou um pedido de registro da operação”, lembrou, dizendo que não há data para a oferta pública inicial e “nem sequer o compromisso em fazê-la”. O executivo explicou que até o momento a CSN apenas informou ao mercado financeiro sua intenção em estudar diversas opções que pudesse trazer valor para os ativos de mineração.


O Globo Urânio: país pode quebrar monopólio
Dilma diz que governo estuda entrada do setor privado no segmento nuclear
Gustavo Paul e Cristiane Jungblut

BRASÍLIA. O governo estuda a entrada da iniciativa privada no processo de produção e enriquecimento de urânio, com vistas às futuras usinas e térmicas nucleares a serem construídas no Brasil. A flexibilização do histórico monopólio estatal do setor foi admitida ontem pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, durante o depoimento sobre o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) na Comissão de Infra-estrutura do Senado. A ministra alertou que o país precisará incrementar o parque gerador nuclear, pois entre 2020 e 2030 o atual modelo energético, baseado na geração hidrelétrica e nas térmicas a gás, óleo e carvão, estará próximo do esgotamento.

A entrada do capital privado neste ramo é uma demanda de grandes empresas de mineração, como a Vale, que vai investir na Austrália. O empresário Eike Batista, dono da holding EBX, também já disse querer explorar o minério. Há no mundo um mercado potencial de US$12 bilhões de compra e venda de urânio, ávido por fornecedores, mas o monopólio estatal impede a entrada das empresas privadas no setor.

O Brasil detém a sexta maior reserva conhecida do planeta. E, nos últimos anos, a demanda internacional cresceu a tal ponto que se calcula que haja um déficit de cerca de 60 mil toneladas para atender aos interessados.

Usina de Angra 3 vai custar ao governo R$7,3 bilhões
Dilma disse que a construção da usina nuclear de Angra 3 está garantida e que outras virão, como já indica o planejamento do setor elétrico. As projeções comportam a existência de oito usinas no país até 2030.

- A gente acredita que mais de uma usina será necessária nos próximos anos.

Segundo ela, para atender à demanda, o governo deve contar com a ajuda privada:

- Existem alguns cenários que não só dizem respeito às usinas e à cadeia da energia nuclear: a produção, exploração e enriquecimento de urânio. E como se daria a participação, nesse caso, da iniciativa privada?

A ministra disse que o governo tem pressa:

- Tem de começar a fazer agora, porque, em média, uma usina demora de cinco a seis anos para ser feita.

No caso de Angra 3, usina que irá gerar 1.350 megawatts (MW) e vai custar R$7,3 bilhões, o governo aguarda a conclusão do estudo de impacto ambiental, que deve ficar pronto em junho. A data prevista para a conclusão da obra é maio de 2014.



O Globo Quebra-cabeça climático
Reduções nas concentrações de poluentes impõem secas severas na Amazônia
Roberta Jansen

Oequilíbrio climático na Floresta Amazônica é muito mais delicado e intrincado do que se imaginava. Novo estudo publicado na "Nature" mostra que, paradoxalmente, reduções nas concentrações atmosféricas de determinados poluentes extremamente maléficos à saúde humana e à do planeta podem exacerbar eventos de seca na região tão dramáticos quanto os registrados em 2005.

Assinado por cientistas britânicos e brasileiros, o estudo revelou que a diminuição do volume de partículas de dióxido de enxofre na atmosfera favorece a ocorrência de períodos mais secos - evento que pode ser letal para a floresta. Estima-se que, a partir de 2060, nove em cada dez anos sejam de secas intensas na floresta, o que levaria à rápida savanização preconizada para a área.

Mas que ninguém pense que o ar mais puro é indesejável, alertam Carlos Nobre e José Marengo, do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), que participaram do estudo coordenado por Peter Cox, da Universidade de Exeter, no Reino Unido. Os poluentes fazem muito mal à saúde - são 3 mil mortes a mais por ano só na grande São Paulo, segundo a USP, por exemplo - e provocam chuvas ácidas. Para os especialistas, apesar de as partículas reduzirem um pouco o aquecimento global, seria "imoral" retardar a sua redução. Elas precisam ser eliminadas, asseguram.

Corte drástico de gás-estufa é a saída
A queima de combustíveis fósseis que contêm enxofre, como diesel e carvão, emite, além dos gases do efeito estufa, o dióxido de enxofre. Este gás, em reações químicas subseqüentes na atmosfera, se transforma em sulfato, um sal que reflete a luz. Ou seja, enquanto os gases-estufa fazem a temperatura global aumentar, o sulfato ameniza um pouco esse efeito ao refletir parte da luz do Sol de volta para o espaço. Essa redução seria de cerca de 0,5 grau Celsius em um século.

Esse efeito, mais intenso no Hemisfério Norte onde boa parte das termoelétricas queima carvão, levou a um resfriamento às águas do Atlântico Norte. Quando as águas desta parte do oceano estão mais frias, a floresta tende a ficar mais úmida. Entretanto, a redução das emissões de dióxido de enxofre - que vem sendo imposta justamente dados os seus malefícios - faz com que as águas apresentem temperaturas mais elevadas. A conseqüência desse intrincado desequilíbrio seria a ocorrência de mais períodos de seca na Amazônia. A única solução possível, dizem os cientistas, é a redução ainda mais drástica das emissões de gases-estufa.

- É uma interpretação errada do estudo achar que se deveria retardar a redução dos particulados; essa é uma maneira errada de olhar para o problema - alerta Carlos Nobre. - Não existe nenhuma justificativa ética possível para se retardar a limpeza do ar urbano. A solução é diminuir ainda mais rapidamente as emissões dos outros gases para compensar o efeito artificial dos aerossóis.

José Marengo concorda com o colega do Inpe:
- Certamente não se pode estimular a poluição no Hemisfério Norte. Estudos anteriores já demonstraram que com a redução significativa dos gases-estufa o efeito dos aerossóis se torna menos importante. Teríamos então menos secas porque haveria uma compensação.

Além dos malefícios à saúde, os poluentes também mascaram os efeitos do aquecimento do planeta, segundo Nobre:

- Os aerossóis estão mascarando o máximo impacto do aquecimento global; eles dão a ilusão de que o problema não é tão grave.



O Globo AMAZONAS
Nascente é localizada a 5 mil metros, nos Andes peruanos

Cientistas caminham pelo local em que localizaram a nascente do Rio Amazonas, nas montanhas Quehuisha, no Peru, 5.150 metros acima do nível do mar. Foram 12 anos de pesquisas, coordenadas pelo polonês Jacek Palkiewicz para que o ponto exato onde nasce o rio fosse apontado. O arroio Apacheta, no departamento (estado) de Arequipa, é a origem do mais caudaloso rio do mundo, segundo o estudo apresentado pela Sociedade Geográfica de Lima. Dessa forma, geólogos e geógrafos peruanos validaram as investigações feitas pelo explorador polonês, que empregou critérios hidrográficos e geomorfológicos para determinar o local. Os especialistas consideram que o estudo põe um ponto final à polêmica que já dura séculos sobre qual seria o verdadeiro manancial original do Amazonas. O local apontado pelos pesquisadores é diferente do ponto que até então se considerava como o mais provável para a nascente do rio - localizado a mais de 10 quilômetros das montanhas Quehuisha. Palkiewicz explicou que sua expedição seguiu o curso do rio "até as alturas andinas, eliminando afluentes e seguindo critérios geográficos" para identificar sua origem. Trata-se de um pequeno arroio que flui por uma camada de gelo subterrâneo.



Valor Econômico Lula decide criar mais postos militares na Amazônia

Após o acirramento dos conflitos na reserva indígena Raposa/Serra do Sol, em Roraima, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu ontem que o governo federal vai aumentar o número de postos militares nas áreas fronteiriças da Amazônia. A orientação do presidente foi transmitida aos ministros Tarso Genro (Justiça) e Nelson Jobim (Defesa), que deverão definir os números e os detalhes do texto do decreto a ser editado.

O ministro da Justiça negou que a decisão tenha sido provocada pela pressão das Forças Armadas, especialmente do Exército, após as críticas do comandante militar na Amazônia, general Augusto Heleno, que condenou a política indigenista do governo federal.

"Eu e o ministro Jobim vamos trabalhar para apresentar ao presidente Lula um decreto para a instalação de mais postos militares na Amazônia. Vamos constituir um programa de aumento desses postos", afirmou Tarso, depois de se reunir com Lula, Jobim e o presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Márcio Meira, no Palácio do Planalto.

No inicio da tarde de ontem, os índios deixaram a fazenda Depósito, na reserva Raposa/Serra do Sol, que havia sido ocupada na madrugada de segunda-feira. Uma funcionária da fazenda confirmou que os índios deixaram a área por volta das 13h30 e montaram novas tendas do outro lado da cerca.

O índio macuxi Dionito Souza, coordenador do Conselho Indígena de Roraima (CIR), disse que os índios decidiram deixar o local até que o STF julgue as ações sobre a demarcação de terra da reserva. Segundo o CIR, os índios decidiram deixar a fazenda após reunião com representantes do Ministério da Justiça. A reserva é alvo de disputa entre índios e agricultores que cultivam arroz na região.

Após a decisão dos índios de desocupar a fazenda Depósito, na reserva Raposa/Serra do Sol, Tarso Genro negou que tenha ocorrido nos últimos dias um agravamento dos conflitos na região. Segundo ele, a tendência é de "distensão".

Otimista, o ministro disse que está convencido que após o julgamento das ações envolvendo a Raposa/Serra do Sol , será possível encerrar o impasse na região. "Vamos seguir a orientação do Supremo. Esta é uma posição de Estado", disse Genro.

O ministro-relator das 33 ações que tratam do assunto, Carlos Ayres Britto, do STF , disse ontem que concluirá seu voto até o fim da semana. Segundo ele, o esforço será para que o tema seja julgado pelo Supremo ainda este mês. Britto ressaltou que até a decisão do mérito, a liminar - que dá aos arrozeiros direito de ficar no local e determina que os indígenas não podem invadir as áreas em que vivem os produtores rurais - deve ser respeitada.

Para o ministro do Supremo, a Polícia Federal) e a Força Nacional de Segurança (FNS) atuaram corretamente na região, pois têm a atribuição de defender áreas federais.

"Toda atividade da Polícia Federal será pautada por dois parâmetros: a polícia não pode desalojar quem está região nem pode permitir que haja uma invasão da terra deles, porque, do contrário, os arrozeiros ficarão cercados na própria casa, convivendo com o inimigo", disse o ministro. "No mais, todo o cuidado e responsabilidade são do governo federal e das forças de segurança."

Wednesday, May 07, 2008

Outros exercícios
Nelson de Sá
Não é só com a Marinha dos EUA que o Brasil faz operações no Atlântico Sul. Os indianos "Hindu" e "Economic Times" deram que "o eixo trilateral" Índia, Brasil e África do Sul iniciou na segunda um exercício naval de dez dias, na costa da Cidade do Cabo. Envolvendo navios, submarinos e aviões, "visa a enfrentar o terrorismo no mar".
Folha de São Paulo Antes de sair, Putin fecha acordo nuclear com EUA
Presidente russo entrega hoje o cargo a Medvedev
Um dia antes de entregar o cargo de presidente da Rússia ao aliado Dmitri Medvedev, Vladimir Putin tomou ontem mais uma medida estratégica de última hora ao assinar um acordo de cooperação nuclear civil com os Estados Unidos.
O documento abre uma nova era na parceria tecnológica e comercial russo-americana e sinaliza um apaziguamento na relação bilateral, abalada entre outras razões pela recusa de Moscou em confrontar o programa nuclear iraniano.
O principal objetivo do acordo é ampliar o comércio nuclear bilateral entre empresas das duas maiores potências atômicas do mundo, abrindo caminho para a criação de joint ventures no setor.
O acordo facilitará o acesso dos americanos a enormes reservas de urânio na Rússia e permitirá aos russos penetrarem no mercado de energia nuclear dos EUA. Até agora, a Rússia não tinha acesso direto a esse atrativo segmento de negócios nos EUA.
O pacto também pode ajudar a Rússia a estabelecer uma instalação internacional para estocar combustível nuclear. Haveria dificuldade para fazer isso sem o apoio dos EUA, país que controla a maior parte do combustível nuclear mundial.
"O valor potencial desse acordo é o valor de todos os contratos que podem ser assinados entre as empresas dos dois países na esfera nuclear, que é obviamente de bilhões de dólares", disse uma fonte russa.
Em outra decisão estratégica tomada às vésperas de entregar o cargo, Putin havia promulgado anteontem uma lei que restringe os investimentos estrangeiros em setores estratégicos da economia nacional, como a indústria de armamento e os meios de comunicação.
Segundo a nova lei, as companhias estrangeiras precisarão de autorização oficial para poder comprar mais de 50% das ações de uma companhia estratégica russa.
Herança
Proibido por lei de concorrer a um terceiro mandato, Putin, 55, deixa hoje a Presidência russa após oito anos de gestão com aprovação de 70%. Ele é considerado responsável pelo fim do caos causado pela desintegração da União Soviética e mentor da recuperação da Rússia como potência geopolítica.
Putin continuará tendo grande influência na política russa, já que ele será o primeiro-ministro de Medvedev, que será empossado hoje em grandiosa cerimônia no Kremlin.
Com agências internacionais
Folha de São Paulo Painel do Leitor
Exército
"A respeito do artigo "Em busca da crise" (Brasil, 24/4), o Centro de Comunicação Social do Exército ressalta que o Brasil tem um histórico respeitável no que diz respeito à participação em missões de paz.
Essa participação inclui desde o envio de observadores e assessores militares até a participação mais efetiva com contingentes militares completos, como é o caso no Haiti.
O contingente brasileiro no Haiti é substituído a cada período de seis meses, conforme memorandos de entendimento entre as partes envolvidas e a ONU. A missão não tem prazo previsto para término. Ela é renovada a cada contingente, de acordo com a solicitação do Haiti, a aprovação da ONU e a aceitação por parte do governo brasileiro. Em maio próximo, terá início o rodízio do oitavo para o nono contingente.
Quanto ao cargo de "Force Commander", citado no artigo, que vem sendo exercido por brasileiros desde o início da missão no Haiti, o período de permanência previsto pela ONU -assim como de outros assessores de origem multinacional- é de um ano, diferentemente do da tropa. Em casos excepcionais, e quando solicitado pela a ONU, há a permanência do oficial-general além daquele prazo.
As atividades realizadas pelos brasileiros integrantes do Exército representam um esforço histórico de cooperação do país com a paz mundial. A missão no Haiti é a única -entre aquelas da ONU que visam à imposição de paz- que detém alto índice de aprovação por parte da população local (cerca de 78%)."
ADHEMAR DA COSTA MACHADO FILHO, general-de-divisão, chefe do Centro de Comunicação Social do Exército (Brasília, DF)
Resposta do jornalista Janio de Freitas
- Não há, no artigo citado, uma só palavra contrária ou a respeito dos conceitos contidos na carta acima.
Jornal do Brasil Naufrágio já matou 34 no Rio Solimões
Passageiros desaparecidos ainda são cerca de 20, s
MANAUS
Subiu para 34 o número de mortos no naufrágio do barco Comandante Sales, em Manacapuru (84 km a oeste de Manaus), na madrugada de domingo. Somente ontem 17 corpos foram localizados nos rios Solimões e Amazonas. De acordo com a Polícia Civil, ainda há de 10 a 20 pessoas desaparecidas. As vítimas localizadas até agora são 17 homens, 16 mulheres e um menino de cerca de um ano.
O comandante do Corpo de Bombeiros do Amazonas, Antônio dos Santos, disse que já era esperado que mais corpos começassem a boiar após 48 horas do acidente, já que as águas do rio Solimões são frias, o que favorece a conservação dos cadáveres.
– Em águas mais quentes a deterioração do corpo é maior e eles vão à tona em cerca de 24 horas – explicou Santos.
A maior parte dos corpos foi encontrada na região onde o barco de madeira tombou. Dois dos corpos, contudo, foram localizados a cerca de 50 km do local do naufrágio, já no rio Amazonas, nas imediações de Manaus.
Por conta da localização distante desses corpos, equipes de buscas montaram uma barreira' com lanchas no local para tentar evitar, visualmente, que corpos sejam levados pela correnteza do rio. O raio das buscas foi estendido para até 60 km do ponto do acidente.
Ontem, cerca de cem integrantes da Marinha e do Corpo de Bombeiros trabalhavam nas buscas. Um helicóptero da Marinha também foi usado na operação.
Até o início da noite, apenas os 17 corpos localizados entre o último domingo e segunda-feira haviam sido identificados. Os outros 17 permaneciam no Instituto Médico Legal em Manaus, para reconhecimento.
Investigação
O delegado Antônio Rodrigues disse que peritos iniciam hoje a perícia no barco, que possui dois andares e cerca de 20 metros de comprimento. Segundo o delegado, a causa mais provável do acidente foi excesso de passageiros, o que teria impossibilitado a embarcação de passar por um remoinho (movimento em círculo causado pelo cruzamento de ondas ou ventos), causando seu tombamento.
A capacidade do barco era de 50 pessoas. De acordo com estimativas do Corpo de Bombeiros, estaria transportando cerca de 80 no momento do acidente. A maioria participava de uma festa religiosa na comunidade Lago do Pesqueiro. Segundo a Marinha, o barco estava em situação irregular.
Segundo Rodrigues, ainda é difícil saber quantas pessoas sobreviveram ao acidente, devido ao grande número de barcos que ajudaram no resgate. A estimativa, segundo ele, é de cerca de 50 sobreviventes.
Jornal do Brasil Bahia: destroços do bimotor são achados
Equipes de resgate confirmaram ontem ter encontrado destroços do bimotor Cessna C-130 Q desaparecido desde o final da tarde de sexta-feira no litoral sul da Bahia. A aeronave transportava quatro empresários ingleses, além do piloto e do co-piloto. Ninguém foi encontrado. Segundo o capitão da PM e coordenador da operação de busca por terra, os objetos foram guardados e examinados na manhã de ontem. As buscas aos passageiros e tripulantes foram retomadas hoje, com ajuda da Marinha
Jornal do Brasil COLUNA GILBERTO AMARAL
Alto comando /Temporão no Senado/Ano polar
Gilberto Amaral
Alto comando
Foi transferida para o fim de maio, a reunião do Alto Comando do Exército. O comandante Enzo Martins Peri vai tratar com os quatro-estrelas de assuntos administrativos. Na próxima reunião deverá haver promoções.
Temporão no Senado
O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, vai hoje ao Senado fazer uma prestação de contas sobre as iniciativas de seu ministério na luta de combate à dengue em território nacional.
No caso específico do Rio, há que se reconhecer o esforço das Forças Armadas, junto com os setores diretamente responsáveis do governo, para conseguir o controle do surto epidêmico.
Ano polar
O Congresso realiza sessão solene conjunta, nesta quinta-feira, às 10h, para comemorar a primeira participação do Brasil no 4º Ano Polar Internacional, que reúne um conjunto de ações científicas no Ártico e na Antártica. O programa envolve mais de 200 projetos, com milhares de cientistas de mais de 60 países que analisam uma série de tópicos nas áreas da física, da biologia e da pesquisa social
O Estado de São Paulo Chegam a 34 os mortos em naufrágio
MPE diz que pode bloquear bens de donos para pagar indenizações; Lula diz que ‘ganância’ causou tragédia
André Alves
O prefeito de Manacapuru, Washington Régis, afirmou ontem que o número de vítimas do naufrágio do barco Comandante Sales 2008 pode chegar a 50. Até ontem, 34 corpos haviam sido resgatados. Após o cruzamento de dados colhidos pelo serviço social da prefeitura com informações da Polícia Civil, chegou-se à conclusão de que ainda há pelo menos 20 pessoas desaparecidas.
Ontem, equipes do Corpo de Bombeiros e da Marinha encontraram mais 17 corpos (6 mulheres, 10 homens e 1 criança do sexo masculino). Desses, 2 foram encontrados flutuando no encontro das águas dos Rios Negro e Solimões, a pelo menos 30 quilômetros do local do acidente. As equipes de resgate trabalham numa extensão de 60 quilômetros à procura dos corpos de outras vítimas.
“Os corpos estão começando a boiar” , comentou o prefeito de Manacapuru, cidade onde residiam todas as vítimas do acidente. Na tarde de segunda-feira, 17 pessoas foram sepultadas no município. O barco Comandante Sales 2008 naufragou na madrugada do domingo, no Rio Solimões, interior do Amazonas.
Promotores do Ministério Público do Amazonas anunciaram que vão acompanhar as investigações sobre as causas do naufrágio. A apuração está sendo conduzida pela Capitania dos Portos e pela 1ª Delegacia Regional de Manacapuru. Um dos representantes da comissão, o promotor Agnaldo Concy, lamentou a falta de dados precisos sobre o número de passageiros do barco. “Até o momento, o único número de que dispomos é o de vítimas registradas no IML (Instituto Médico-Legal).”
Concy ressaltou que esses dados “são importantíssimos” para ajudar as famílias das vítimas a requererem indenização dos proprietários do barco. Um deles, Francisco Sales, morreu no acidente. Segundo o MPE, os bens de Sales podem ser bloqueados pela Justiça e posteriormente repassados às famílias. Estima-se que 80 a 100 pessoas estivessem na embarcação no momento do acidente.
Em visita oficial ao Amazonas, ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu que os próprios passageiros de embarcações exijam segurança, embora tenha admitido que já viajou em embarcações “com caixa-d’água com peixe, bode, cavalo, com um palmo de água pra entrar, com tudo dentro”. “Mas as pessoas precisam autofiscalizar-se. Ninguém pode jogar sua vida numa embarcação que não tenha as condições adequadas”, afirmou. “Quando um cidadão ganancioso pensa em ganhar dinheiro alugando um barco, colocando mais gente do que deveria colocar, sem a segurança ideal, esse cidadão está cometendo crime contra o povo.”
O Estado de São Paulo Venezuela busca compra de submarinos da Rússia
Roberto Godoy
O presidente Hugo Chávez, da Venezuela, vai assinar essa semana, em Moscou, o contrato inicial de US$ 800 milhões para a compra dos primeiros quatro submarinos, de um provável lote de nove modelos da classe Kilo-2, considerados “muito silenciosos e furtivos”, de acordo com o chefe do estaleiro Rubin, engenheiro Yuri Kormilitsin.
A negociação foi anunciada pelo principal jornal de economia do país, o Kommersant. Chávez está na Rússia para assistir à posse, hoje, do novo presidente, Dmitri Medvedev (leia na pág. 14).
O valor total estimado da operação é de US$ 2,4 bilhão, com o armamento e o recheio eletrônico. A agência russa para venda de equipamentos e sistemas militares, a Rosoboronexport, admitiu as “discussões comerciais”. O Kilo 2-636 é a última geração de uma herança da Guerra Fria. Na prática, é um novo navio de combate. É um modelo médio, que desloca 4.000 toneladas submerso, e veloz, operando na faixa de 25 nós, com autonomia de 13,5 mil km. Não há igual na América Latina - mesmo o novo submarino convencional brasileiro, o francês Scórpene, é menor, com 1.700 toneladas. O armamento é composto por 20 torpedos de 533 mm, 24 minas e 18 mísseis: 16 antiaéreos leves Igla e Strela, para atingir alvos voando baixo, entre 4,2 km e 5,5 km; mais 2 Oniks, de cruzeiro.
Duas das seis câmaras disparadoras dianteiras foram preparadas para receber o torpedo de alto desempenho e médio alcance Shkval-E. Lançado dentro de uma de bolha de ar comprimido, viaja por 13 km levando 210 quilos de explosivos a 400 km/h.
O Globo Amorim: continente rejeita separatismo
Em nome dos vizinhos, chanceler diz que autonomia na Bolívia deve ser negociada com o governo
Eliane Oliveira*
BRASÍLIA. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou ontem, após se reunir com o chanceler uruguaio, Gonzalo Fernández, que as nações sul-americanas jamais aceitariam o separatismo na Bolívia, como resultado do referendo realizado no último domingo em Santa Cruz e dos que estão por vir em outros departamentos. A autonomia, defendeu o ministro, deve ser negociada com La Paz.
- Não creio que haja separatismo. Até porque a América do Sul não aceitaria isso - disse Amorim.
Ele frisou que o Brasil não se posicionaria contra o desejo de autonomia, desde que se respeitem os princípios constitucionais e seja da vontade do povo boliviano. Segundo o ministro, é preciso que o estatuto que foi votado em Santa Cruz esteja de acordo com a Constituição em vigor no país.
O ministro defendeu um amplo acordo na Bolívia.
- É perfeitamente possível restabelecer o diálogo com a ajuda da Igreja, da OEA (Organização dos Estados Americanos) e dos países amigos - disse Amorim, referindo-se ao Grupo de Amigos da Bolívia, formado por Brasil, Argentina e Colômbia. - O que temos que fazer é trabalhar de maneira coordenada, para irmos todos no mesmo sentido. Neste momento, temos de encontrar uma maneira de restabelecer o diálogo e é nisso que estamos empenhados. Mas com discrição, sem impor nada. Não podemos nos esquecer de que, nesse caso, o grupo de amigos foi uma sugestão inicial do próprio governo boliviano.
União Européia mostra sintonia com o Brasil
Indagado se, com a realização do referendo em Santa Cruz, um acordo não teria ficado ainda mais difícil, o chanceler brasileiro respondeu:
- O referendo já passou. Não adianta ficar pensando se é mais fácil ou menos fácil. A Bolívia é um país com o qual temos que trabalhar com as unidades nacionais. Agora, tem que haver diálogo.
Para Amorim, os eventos em Santa Cruz foram muito menos dramáticos do que o imaginado.
A União Européia (UE) também está preocupada com a tensão política, informou ontem a comissária de Relações Exteriores do bloco, Benita Ferrero-Waldner. Numa videoconferência sobre a Cúpula UE/América Latina e Caribe, marcada para este mês em Lima, no Peru, ela manifestou disposição de facilitar a aproximação entre o governo boliviano e as regiões opositoras.
- Fazemos votos para que todos os esforços, seja da Igreja, da Organização dos Estados Americanos e dos enviados do grupo de países amigos, realmente façam algo para fomentar este diálogo e que tenham êxito - disse Ferrero-Waldner, em sintonia com o Brasil.
*COLABOROU Geralda Doca
O Globo Rio reúne caçadores de ciclones
Evento este mês será o primeiro a dedicado a supertempestades no Atlântico Sul
Ana Lucia Azevedo
Ciclones extratropicais como o que deixou milhares de desabrigados e trouxe a primeira neve do ano no Sul do Brasil esta semana não são raros no país, diferentemente do que muita gente pensa. Porém, eles não são previstos com muita segurança em prazos superiores a cinco dias, o que poderia evitar mortes e prejuízos. Mas melhorar a previsão e traçar planos de redução de danos são as metas do Encontro Internacional sobre Ciclones do Atlântico Sul, que acontecerá no Rio de 19 a 21 de maio.
O evento será o primeiro a reunir somente especialistas nas chamadas tempestades severas para discutir o Atlântico Sul, muito menos conhecido e monitorado do que o Norte, vigiado por satélites, radares e bóias oceanográficas americanos e europeus. Por tempestade severa entenda-se fenômenos como ciclones, tornados, furacões e todo tipo de tempestade de alto poder destrutivo.
- Reuniremos especialistas do Brasil, de países do Cone Sul, da Austrália e dos Estados Unidos - diz o coordenador do encontro, Isimar de Azevedo Santos, do Departamento de Meteorologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Um desses especialistas é Manoel Alonso Gan, do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC/Inpe), em São José dos Campos, São Paulo. Gan participa de um programa para desenvolver um modelo capaz de prever que um ciclone destrutivo está a caminho, com antecedência de uma semana a dez dias. Ele é o representante do Brasil no programa Thorpex, da Organização Meteorológica Mundial (OMM). O Thorpex tem como meta melhorar a previsão de eventos climáticos extremos em todo o mundo e há dois anos criou um comitê para o Hemisfério Sul.
- Prevemos quando um ciclone vai se formar com até quatro dias de antecedência. Mas isso não é suficiente para evitar danos muito extensos. Se um agricultor soubesse com antecipação maior que será atingido por uma geada, poderá antecipar a colheita e reduzir o prejuízo - explica Gan, um estudioso do Catarina, o único furacão registrado no Atlântico Sul e que em março de 2004 atingiu Santa Catarina.
Para isso, é preciso investimento em equipamentos - satélites, bóias oceânicas, radares, sensores em aviões e balões climatológicos, por exemplo. E é necessário aperfeiçoar os modelos matemáticos usados para prever o tempo. Engana-se quem imagina que caçar tempestades é trabalho de fiscal da natureza. Olhos eletrônicos de satélites, sensores e radares fazem esse serviço. Meteorologistas e climatologistas lidam com números. Desenvolvem e analisam modelos que transformam em números os fenômenos climáticos. E a matemática do clima ainda se enrola nas contas quando se trata de prever fenômenos como os ciclones, nos quais uma série quase infindável de elementos, como detalhes de vento, oceanos e atmosfera, estão envolvidos.
- No Brasil há poucos radares, fundamentais para prever fenômenos extremos. E devemos refinar nossos modelos, para que antecipem a formação de um ciclone, contando com dados preliminares - diz Gan.
Santos observa que num cenário de aquecimento global, em que o painel climático da ONU prevê o aumento da intensidade e da freqüência de supertempestades, esse tipo de previsão salvará vidas.
- Esse conhecimento é importante para planejamento urbano, navegação, atividades portuárias, prospecção de petróleo e turismo, por exemplo - diz Santos, coordenador do projeto "Estudo de Ciclones no Atlântico Sul e Impactos na Costa do Estado do Rio de Janeiro (Ciclones), apoiado pela Finep.